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Peabiru-PR
Palavra do padre
31/03/2017

Quinto Domingo da Quaresma: Lázaro! Vem para fora.

Reflexão ao V domingo da Quaresma

 O desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a nossa vida biológica

 

“E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós” (Rm 8, 11)

– Segunda Leitura deste quinto domingo –

 

Queridos filhos e filhas, estamos chegando ao término de uma caminhada que tem como objetivo nos levar à conversão. Estamos chegando ao final da caminhada quaresmal e, após este quinto domingo, na semana que vem, com o domingo de ramos, estaremos entrando na Semana das semanas, a Semana Santa onde veremos o Senhor Jesus manifestar todo seu amor por nós doando-se na cruz por amor a nós e, com tamanho gesto de amor dar-nos Vida Nova. A Vida Nova em Cristo é, de fato, o tema deste quinto domingo da quaresma.

 

Desde o terceiro domingo da quaresma, a liturgia nos propunha uma “catequese batismal” através de alguns elementos que apareceram nos evangelhos: água (evangelho da Samaritana, no terceiro domingo), luz (domingo passado, quarto domingo, a cura do cego de nascença) e, hoje, a Vida Nova em Cristo, com o evangelho da “ressurreição” de Lázaro (Jo 11, 1-45). Assim, Aquele que nos batiza na água e nos Espírito, é O que nos convida a caminhar como Filhos da luz e, sepultados em sua morte (imersão na água), somos herdeiros da Vida Nova da Ressurreição (emersão da água). Tais elementos e espiritualidade batismal iremos vivenciar na celebração da vigília pascal, onde celebraremos o rito da bênção da água batismal e, também, o batismo de alguns catecúmenos. A caminhada quaresmal, portanto, tem o objetivo de nos conduzir à Vida Nova em Cristo a partir do nosso batismo, ou seja, tomando consciência de que o mesmo não é apenas um rito de passagem ou inserção social mas que, de fato, deve mudar nosso viver. Eis aqui o motivo de nossa conversão: procurar voltarmos à Vida Nova em Cristo.

 

O Evangelho de hoje garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser “amigo” de Jesus (Cnf. Jo 11, 5: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro”) e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.

 

O texto que hoje nos é proposto é uma narração única, que não tem paralelo nos outros três Evangelhos. A cena situa-nos em Betânia, uma aldeia próxima do monte das Oliveiras, a cerca de três quilómetros de Jerusalém. O autor, aqui, coloca-nos diante de um triste episódio familiar: a morte de um homem. A família mencionada, constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro), parece conhecida de Jesus: no vers. 5, diz-se que Jesus era amigo de Marta, da sua irmã Maria e Lázaro. A visita de Jesus a casa desta família é, ainda, mencionada em Lc 10,38-42; e João tem o cuidado de observar que a Maria, aqui referenciada, é a mesma que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos (vers. 2, cf. Jo 12,1-8). Ressaltemos dois elementos de importância neste evangelho: em primeiro lugar fato de aparecerem “irmãos” como protagonistas desta cena  e, em segundo lugar o fato da cena se desenvolver numa casa, a casa de Marta, Maria e Lázaro.

 

O autor da narração não faz qualquer referência a outros membros desta família onde se desenvolve a cena, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, mãe, filhos. Além disso, João insiste no grau de parentesco que une os três: são “irmãos” (esta palavra, “irmãos”, aparece dez vezes neste trecho, nos versículos 1.2b.3.5.19.21.23.28.32.39). A palavra “irmão” (“adelfós”) será, portanto, a mesma palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo 20,17: “Jesus disse: “Não me segures, pois ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”); e este apelativo será comum entre os membros da comunidade cristã primitiva (Jo 21,23: Por isso, divulgou-se entre os irmãos que aquele discípulo não morreria”). João, aqui, faz questão de destacar um elemento fundamental da comunidade primitiva: a fraternidade que unia os cristãos e que era o elemento pelo qual eram reconhecidos: são irmãos.

 

A família de Betânia, a casa onde se desenvolve a cena, representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física. Como é que deve lidar com ela? Com o desespero de quem acha que tudo acabou? Com a tristeza de quem acha que a morte venceu, por algum tempo, até que Deus ressuscite o “irmão” morto, no final dos tempos (perspectiva dos fariseus da época de Jesus)? Não. Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida e que dá aos seus a vida plena, em todos os momentos. Ele não evita a morte física; mas a morte física é, para os que aderiram a Jesus, apenas a passagem (imediata) para a vida verdadeira e definitiva. Para os “amigos” de Jesus (para aqueles que acolhem a sua proposta e fazem da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos irmãos) não há morte… Podemos chorar a saudade pela partida de um irmão, mas temos de saber que, ao deixar este mundo, ele encontrou a vida plena, na glória de Deus.

 

A ação de dar vida a Lázaro (aliás, fato que devemos corrigir ao nos referirmos a este evangelho é o fato de o mencionar como “Ressurreição” de Lázaro. A ressurreição é definitiva e será inaugurada com a ressurreição de Jesus. Podíamos apenas mencioná-lo como re-avivamento de Lázaro) representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, ergue os olhos ao céu e dá graças ao Pai (vers. 41b-42): aqui vemos que a sua oração demonstra comunhão com o Pai e a sua obediência na concretização do plano do Pai. Depois, Jesus mostra Lázaro “vivo na morte”, provando à comunidade dos crentes que a morte física não interrompe a vida plena do discípulo que ama Jesus e O segue. Tal Vida Nova já nos é dada no batismo e, celebrar a páscoa é, por excelência, celebrar a Ressurreição do Cristo mas, também, nossa Vida Nova, dada por Ele no dia do nosso batismo.

 

Contudo, a questão principal do Evangelho deste domingo é a afirmação de que não há morte para os “amigos” de Jesus, isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos. Os “amigos” de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição e aniquilação: é, apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus. A história de Lázaro pretende representar essa realidade. E, ainda, a liturgia de hoje nos convida a refletirmos o fato de que no dia do nosso Baptismo, escolhemos essa vida plena e definitiva que Jesus oferece aos seus e que lhes garante a eternidade. Assim, podemos refletir e nos perguntar: nossa vida tem sido coerente com essa opção? A nossa existência tem sido uma existência egoísta e fechada, que termina na morte, ou tem sido uma existência de amor, de partilha, de dom da vida, que aponta para a realização plena do homem e para a vida eterna?

 

Pe Adailton Luduvico, CSF

 



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