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Peabiru-PR
Palavra do padre
07/04/2017

Reflexão de Domingo de Ramos

Reflexão de Domingo de Ramos

 

“o vestiram com um manto vermelho; depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita.
Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, 
dizendo: 'Salve, rei dos judeus!'” “(Mt. 27, 28b-29)

 

 

Queridos filhos, queridas filhas, chegamos ao início da Semana das semanas, a Semana Santa. Mas, o que tem de especial nela? Nesta semana, a partir da liturgia de Domingo de Ramos, somo convidados a contemplar a Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor. É forte, no evangelho desta liturgia, a imagem que temos de Jesus, o nosso Rei: vestido com um manto vermelho, depois de o despojarem de suas vestes, coroado não com uma coroa de ouro, como as realezas humanas do nosso mundo mas, sim, de espinhos e com uma vara na mão como seu cetro real. É a famosa cena pintada por muitos artistas, dentre eles Caravaggio, e que retrata as palavras de Pilatos diante desta cena: “Ecce Homo” – “Eis o homem”!  

 

A liturgia deste domingo, nos propõe dois trechos de evangelho, o primeiro, antes da procissão, que é o evangelho de Mateus 21, 1-11, em que contemplamos Jesus entrar triunfalmente na Cidade Santa de Jerusalém, sendo aclamado por todos: “As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: 'Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!'” (Mt. 21, 9). Entretanto, mesmo que as multidões o aclamassem Rei, o evangelista, São Mateus, sublinha bem a dúvida que pairava nos corações destas mesmas pessoas, ou seja, de que realmente Jesus fosse o messias que todos esperavam, isto é, um messias concebido segundo a lógica humana, que fosse tomar Israel do poder opressor valendo-se de exércitos, carros, cavalos, cavaleiros... Tal dúvida, percebemos nas seguintes palavras: “Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou, e diziam: 'Quem é este homem?'” (Mt. 21, 10).

 

Também nós, hoje, podemos nos perguntar: quem é este homem? A resposta, já temos no segundo evangelho proposto pela liturgia de hoje, no evangelho da narração da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. É na cena da cruz que vemos quem é Jesus: “Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: 'Este é Jesus, o Rei dos Judeus.'” (Mt. 27, 37).  Sim, queridos filhos e filhas, Jesus é o Rei que “frustra” nossas expectativas de realeza humana, ele nos liberta não pelas forças humanas, de exércitos e ações beligerantes, mas ele nos liberta pela força de seu amor doado a nós do alto de seu trono, a cruz. Mas este nosso rei, que é o Cristo Senhor, pede-nos um compromisso com ele, pede que o ajudemos a carregar a sua cruz. Aqui podemos tomar um outro destaque da liturgia de hoje: a figura dos “dois Simãos”.

 

“Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão,
da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus” (Mt. 27, 32)

 

O primeiro Simão que temos aqui é Simão de Cirene. Um “desconhecido” encontrado ao longo do caminho e que ajuda Jesus a carregar a cruz até o Calvário.

 

“Pedro começou a maldizer e a jurar, dizendo
que não conhecia esse homem!'
E nesse instante o galo cantou.
Pedro se lembrou do que Jesus tinha dito:
'Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes.'
E saindo dali, chorou amargamente” (Mt. 26, 74-75).

 

O outro Simão que temos neste evangelho é Simão Pedro, o qual aparece antes mesmo que apareça na o Simão de Cirene. Este outro Simão já é bem conhecido nosso, é o pescador que, um dia Jesus passando pelas margens do lago da Galileia o viu, e o chamou: “Vem e segue-me! De hoje em diante serás pescador de homens” (Cf. Mc. 1, 17). Este Simão, seguiu o Cristo por três anos, viveu com Ele, anunciou a boa nova junto com Ele.

 

Ambos Simão aparecem neste mesmo trecho de evangelho que hoje contemplamos em nossa liturgia, mas ambos se distanciam em suas atitudes. Um carrega a cruz junto com o Senhor, outro, apesar de ter vivido com o Senhor, o nega e foge para longe da cena da cruz.

 

O constrangimento de carregar a cruz imposto pelos soldados romanos faz surgir um paralelo entre o Simão de Cirene e Simão Pedro, que teria se vangloriado que seguiria Jesus até a prisão e até a morte (Cf. Lc 22,33) quando na verdade o negou, enquanto um anônimo Simão, de origem desconhecida, nada tendo dito em favor de Jesus, tocou em algo "impuro" para os judeus - o sangue de Jesus presente no lenho da cruz - durante o período de uma festa religiosa.

 

Segundo a tradição, após ajudar Jesus a carregar a cruz, Simão volta pra Cirene e conta o acontecido para sua família. Rufo, seu filho, que foi um jovem rejeitado pelo Sinédrio da época, após seu pai contar todo o ocorrido, como este conhecia um pouco a Torá dos judeus, ele identifica que o homem que seu pai ajudou a carregar a cruz, era o Messias; sendo assim uma das primeiras famílias gentias evangelizadas após a crucificação.

 

O que este paralelismo entre os personagens tem a nos indicar, portanto, é que o comprometimento com a cruz do Senhor é o caminho da nossa conversão e a marca do verdadeiro cristão: aquele que se compromete, com atitudes, com o caminho e causa do Senhor Jesus, com sua cruz, com sua doação de amor a nós, seu povo santo.

 

A morte de Jesus, cena central deste evangelho, tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar um mundo novo feito de justiça, de paz e, acima de tudo, de amor para todos os homens (amor que Ele mesmo dá provas na cruz). Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (que se tornam vazios de sentido de partilha e vivem no próprio egoísmo), de que o egoísmo, o orgulho, a autossuficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte. O projecto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo.

 

Contudo, a morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo. Podemos, também, dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém, mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.

 

Pe. Adailton Luduvico, CSF – vigário paroquial

 



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